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O mercado de importados vai renascer em 2018. E isso é bom para todos


A partir de janeiro, deixa de existir o “super IPI”, que encarece boa parte dos carros estrangeiros. E isso pode reduzir os preços de todos os carros novos

Fonte: Carros - iG @ http://carros.ig.com.br/colunas/autobuzz/2017-03-22/mercado-importados-2018.html

Os carros importados já foram sonho de consumo, já provocaram mudanças radicais em nosso mercado, já causaram polêmica por supostas ameaças à indústria nacional... Mas por onde andam nos dias de hoje? Praticamente desaparecidos desde setembro de 2011, quando o então ministro da Fazenda Guido Mantega decretou um acréscimo de 30 pontos porcentuais sobre o IPI dos modelos estrangeiros, exceto os que vêm do Mercosul ou do México. Explicando de maneira clara: um carro com motor a gasolina acima de 2.0, que recolhia 25% de IPI, passou a recolher 55% só desse imposto.

A medida só não matou totalmente os importadores porque foi criada uma cota anual de 4.800 carros importados para cada empresa sem a cobrança desse “super IPI”. Além dessa sobretaxa, os carros estrangeiros recolhem 35% de imposto de importação, sem contar a conversão para o real, o frete e outras tarifas.

A boa nova é que esse protecionismo excessivo tem prazo para terminar: 31 de dezembro deste ano. E isso vem animando os importadores que sobreviveram. Vários deles já projetam encomendas de lotes mais generosos em outubro, para que os navios cheguem e abasteçam as lojas a partir de janeiro de 2018.

O que você, consumidor que nem pensa em comprar um de fora, tem a ver com isso? Mais do que imagina. A notícia não é boa apenas para os que pensam em comprar um carro importado, seja um chinês compacto ou um alemão topo de linha. Quem compra veículos nacionais também poderá ganhar com a volta dessa saudável concorrência. Os importados têm um papel de regulação no mercado, pressionando para baixo os preços dos nacionais (ou pelo menos evitando aumentos exagerados). E também trazendo tecnologias inéditas, que obrigam os fabricantes locais a modernizar seus produtos.

Após a alta no IPI, o dólar e outras moedas estrangeiras começaram a subir rapidamente em 2012, aos primeiros sinais da crise econômica que dura até hoje no Brasil. As empresas sem fábricas viram suas vendas definhar, em especial a coreana Kia, que vivia seu melhor momento – fechou 2011 com mais de 77 mil emplacamentos. Muitas foram embora, como a coreana SsangYong e as chinesas Geely, Effa Motors e CN Auto. Nesta semana foi a vez da inglesa Aston Martin deixar o país.

As que sobreviveram continuam filiadas à Abeifa, associação que também manteve algumas neo-fabricantes. As principais são Kia, JAC, Chery, BMW/Mini, Jaguar/Land Rover, Porsche, Volvo e Lifan. Juntas, elas venderam apenas 36 mil carros em 2016 – o campeão Chevrolet Onix sozinho vendeu mais de 150 mil.

Todas essas marcas esfregam as mãos e fazem planos para um 2018 redentor. A Kia já homologa aqui a nova geração do compacto Picanto, modelo cuja conta hoje não fecha, mas que sem o “super IPI” pode chegar disputando com as versões mais equipadas de Onix e Hyundai HB20, só para citar os líderes de mercado.

Uma nova onda de chineses poderá pressionar para baixo até os preços dos nacionais com motor 1.0. Alguns jipões importados poderão aparecer com preços mais razoáveis, dificultando a constante escalada de preços de SUVs compactos como Honda HR-V (o líder de vendas) e companhia, ou do Jeep Compass num segmento logo acima.

Se por um lado as montadoras sofrerão uma concorrência mais forte dos estrangeiros, por outro poderão redefinir suas estratégias para complementar a gama com produtos de fora a preços mais competitivos e sem tantas amarras de cotas.

Com isso, híbridos como Toyota Prius poderão vir em volumes maiores e com preços mais acessíveis; a Jeep não dependerá somente da dupla nacional Renagade/Compass; as marcas alemãs, francesas e japonesas poderão trazer mais carros de suas matrizes. Tecnologias de segurança e conectividade surgirão com mais facilidade nesses forasteiros, forçando o avanço dos produtos nacionais.

Isso sem falar na volta de marcas como SsangYong, Geely, Mazda e outras, cuja movimentação nos bastidores já foi apurada por AutoBuzz. Quem sabe até a Opel, agora controlada pela francesa PSA Peugeot-Citroën, não volte a vender seus carros no país, agora sem a gravatinha da Chevrolet? Novas gerações de Corsa, Astra, Meriva e Zafira continuam em produção na Alemanha. Modelos que, vale destacar, ainda têm muitos fãs por aqui.

Importados: 26 anos de benefícios e polêmicas

A reabertura das importações no fim de 1990, após quase duas décadas de isolamento comercial, foi uma das poucas coisas boas feitas pelo governo Collor. De lá para cá, a presença dos carros importados só trouxe benefícios ao mercado brasileiro.

Graças a essa abertura, quase todos os grandes fabricantes globais foram atraídos para o nosso mercado. Fábricas foram instaladas, assim como novas lojas, oficinas, fornecedores... Empregos foram criados em escala inédita. E os produtos evoluíram absurdamente, a ponto de hoje termos lançamentos de carros globais em sintonia com países mais tradicionais.

Mas se os importados fazem tão bem ao mercado, por que eles foram praticamente banidos com o decreto Inovar-Auto de 2011? O pretexto foi uma pretensa “invasão chinesa” (dois em cada 100 carros vendidos naquele ano). As razões verdadeiras misturam oportunismo, lobby e falta de visão de longo prazo.

Na época, a chinesa JAC tinha inaugurado sua rede de 70 lojas e feito bastante barulho na mídia, com o lançamento do J3, acessível e bem equipado. Havia outras chinesas no pedaço, mas o volume total de todas elas não chegava perto das vendas de nenhuma das grandes marcas tradicionais.

De fato, a JAC fez muito alarde, abocanhando 1% do mercado logo de largada, e fechando 2011 com 25 mil unidades vendidas em 9 meses. O real valorizado favorecia as importações. As montadoras aproveitaram para pedir alguma atenção ao governo federal. Só que o golpe dos 30 pontos porcentuais foi duro demais, quase uma proibição. Tanto que hoje, a soma de chineses (importados ou feitos aqui) não chega a 1% das vendas de carros de passeio.

Após seis anos de ostracismo, 2018 se aproxima com a promessa de um novo capítulo na novela dos carros importados; ao que tudo indica com um recomeço mais feliz para empresas e consumidores em geral. Isso se o governo de plantão não alterar o planejamento do Inovar-Auto.


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